Dois artigos importantes sobre Buracos Negros foram publicados neste mês. Um é observacional e experimental e o outro é teórico e matemático. O primeiro envolve partícula ejetada classicamente e o segundo partícula absorvida quanticamente por um buraco negro. Mas ambos têm contribuições e ou autorias das Universidades Públicas do Estado de São Paulo.
Vamos ao primeiro.
Correlation of the Highest-Energy Cosmic Rays with Nearby Extragalactic Objects
O grupo multinacional do Observatório Pierre Auger mostrou na Science (para assinantes) suas medidas de vários eventos ultra energéticos de raios cósmicos. Destas medidas conclui-se que as partículas que chegam à Terra com energias cósmicas partiram das imediações de Buracos Negros super massivos nos centros de algumas galáxias ativas. Read more at Nature News ou leia a notícia no Portal da Unicamp pois, não por acaso, o grupo do nosso colega Escobar lidera a colaboração Pierre Auger.
Os raios cósmicos de ultra energias (RCUH) chegam à Terra e provocam um chuveiro de partículas espalhadas. Colecionar o maior número de partículas espalhadas, medir usas energias, momento linear etc não é tarefa simples. O grande feito relatado no artigo da Science foi dar a direção de origem do RCUH.
Havia várias propostas teóricas para explicar acelerações tão grandes em torno de Buracos Negros que poderiam ser a origem dos RCUH. Agora temos uma observação comprovam o que era especulativo.
Vamos ao segundo.
Overspinning a nearly extreme charged black hole via a quantum tunneling process
O artigo trata de um efeito (semi) quântico. Os colegas do IFT-UNESP George Matsas e André da Silva publicaram no Physical Review Letters o seguinte resultado, em poucas palavras: Um Buraco Negro carregado pode adquirir rotação suficiente para “rasgar” seu horizonte de eventos por tunelamento quântico de partículas (escalares). Veja a ilustração com o horizonte interno que cobriria a singularidade essencial vermelha. Nada escaparia do horizonte interno.
Os cálculos do artigo mostram “uma luz no fim do túnel”, isto é mostraria o “interior” deste buraco negro. No jargão da Relatividade Geral temos a conjectura da censura cósmica que proibiria singularidades nuas expostas. Read more at Nature News ou o pré-print original. Matsas e da Silva mostram uma violação possível a uma versão da censura cósmica.
Os resultados envolvem aproximações semi clássicas porque ainda não há uma gravitação quântica. Não se sabe se a gravitação quântica preservaria as censuras cósmicas. É esperar para ver. Ver não, calcular. Esperar não, estudar.