Trânsito, Transporte e Transtorno

O trabalho para transformar o trânsito de São Paulo do transtorno atual em um sistema de transporte humano e eficiente é quase transcendental. Obviamente os recordes de congestionamentos foram amplamente anunciados e previstos – Os 800 novos carros por dia transbordou o sistema rodoviário paulistano.

A prefeitura paulistana adotou algumas medidas de emergência para privilegiar o transporte público de ônibus. Estas medidas só vão funcionar se um trabalhador perceber que pegar o ônibus vale a pena em termos de custo, tempo e conforto. Os ônibus atuais estão longe de serem confortáveis e o tempo de congestionamento tem afetado ônibus e carros particulares de forma que, em geral, o carro chega antes que o ônibus. Assim, milhões de paulistanos não têm dúvida de pagar mais pelo conforto de seus carros.

Fazendo um exercício mental de extremos percebe-se que o trânsito pode piorar ainda mais. O sistema de ônibus da grande São Paulo atende, de maneira precária em termos de tempo e conforto, 2 milhões de passageiros por dia. Muitos destes passageiros estão aguardando uma folga financeira para evitar o sacrifício de pegar ônibus todos os dias. Mais carro nas ruas, mais pessoas confortáveis em seus carros, eventualmente parados em um congestionamento. Mas é melhor, do ponto de vista pessoal, aguardar o trânsito fluir sentado em um carro do que em pé num ônibus. Fazer mais ruas? Onde? Por baixo? A que custo?

Estima-se em 4,1 bilhões de reais os prejuízos anuais dos congestionamentos em São Paulo. Por coincidência a previsão de investimentos no sistema de transporte metropolitano de 2007  a  2010 (4 anos)  é de R$ 16,3 bilhões.

Algumas medidas foram tomadas em outras cidades. Por exemplo, Londres introduziu um pedágio para carros entrarem no centro da cidade. Quatro anos mais tarde o tráfico de carros caiu 36% e o fluxo de bicicleta subiu 49%. Aliás, a produção anual mundial de bicicletas é de 110 milhões contra 49 milhões de carro, isto é, o mundo produz mais de duas bicicletas para cada carro. Algumas de luxo como a armani da imagem abaixo:

bike armani

Bicicletas não vão resolver o problema de São Paulo. A idéia de ciclovias é interessante em locais planos para trechos pequenos. É fácil pensar em um sistema do tipo carrinho de supermercado: todos chegam, usam o carrinho para as compras e o devolvem. O mesmo poderia ser feito com bicicletas em alguns locais onde não se poderia entrar um carro ou um ônibus.

Melhor do que bicicletas seriam os carrinhos do tipo golfe. O Sol, a chuva e o frio não seriam problemas muito grandes para um carrinho fechado e para pequenas distâncias. Para evitar acidentes, o acesso a alguns locais só seriam permitidos a pé, por bicicleta ou com este carrinho. Alguma ordem e convenção são necessárias.

electric golf car

À medida que o transporte ficar mais complicado, desconfortável e caro, medidas alternativas vão aparecer espontaneamente. Por exemplo, muitas viagens na cidade podem ser evitadas se um meio de comunicação eficiente e viável existir. Isto vai de telefone, fax, internet, web-cam até a salas de multimídia e tele-conferência. Isto já acontece em vários casos mas pode-se aumentar em muito este tipo de solução. O tele-transporte do Star Wars não é viável. Pena!

Outro exemplo já bem utilizado é o de estacionar em uma estação na periferia e pegar um metrô para o centro. Vale a pena o estado e a cidade investirem no conforto e agilidade do metrô.

PS1: Read about trafic jam experiment.

PS2: Nova York provavelmente vai adotar um pedágio de US$ 8 para entrar no miolo de Manhattan

Uma consideração sobre “Trânsito, Transporte e Transtorno”

  1. Olá Prof. Samuel!

    Uma parte da solução, além das questões técnicas apresentas no texto, passa pela mudança de postura (que também foi indiretamente levantada no texto).

    Um pouco de sacrifício pessoal DE TODOS produz conforto geral! O grande problema é convencer todos (do Gerente Geral de uma multinacional ao dono do fusquinha 67) que se 75% dos carros particulares deixassem de circular o fluxo do transporte de massa poderia ser melhor (mais rápido e até com menores intervalos)…

    Uso de trem e metro deveria ser estimulado e melhorado…

    Da escola que trabalho no centro do Rio até minha casa, no horário do rush, levo 2h de ônibus e 1h de carro!

    Eu estou amadurecendo a idéia de ir para Natal (RN)… cidade pequena, bonita e com um trânsito do Rio de 10 anos atrás onde posso fazer tudo(pessoal e profissionalmente) que gosto de fazer no Rio…

    Só preciso convencer a família 🙂

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